Dia do professor: uma reflexão



Vamos tentar trazer luz a este importante tema que é a condição do professor no Brasil. Em tempo para o 15 de outubro. Saudações à Consciência Suprema, nossa primeira professora. Om Namah Shivaya!

Nossa ferramenta de trabalho como professores é o Yoga, que abarca o desenvolvimento do Ser como um todo. A reflexão sobre o valor do professor também diz respeito ao valor do aluno, já que somente do encontro dos dois é que ocorre ensino e aprendizado. Do ensino fundamental ao pós-doutorado, em todas as áreas do conhecimento, respeitar e valorizar o professor SIGNIFICA respeitar e valorizar o aluno.



Estamos falando desta unidade professor-aluno como ponto de partida. Um sem o outro não existe. Como professora e como aluna, sinto-me nutrida pela compaixão, desafios, alegria e aprendizados advindos da partilha, que marcam nossa alma, purificam e iluminam nosso Karma. O suprimento das necessidades materiais básicas da vida material está incluído neste contexto, devendo também ser observado com atenção para que sobrevivamos com segurança, nosso trabalho seja auto-sustentável e os saberes possam seguir confortavelmente sendo partilhados. Em nosso país, o esforço para permanecer nesta profissão é grande, mas não há outra onde eu deseje estar. Sendo assim, é essencial o interesse por todos os seus aspectos, e se for preciso ainda mais esforço para suprí-los, que assim seja.

Tenho interesse em uma reflexão conjunta sobre a prosperidade do nosso caminho, e como um primeiro tópico arrisco tentar esclarecer por que acredito que na divisão do valor obtido pelo pagamento dos alunos, ou do Estado, no caso de escolas públicas, um valor maior fique ao professor. Em qualquer escola ou sala de aula do mundo.

O que é uma escola? Um local para desenvolvimento do Ser Humano, e o principal facilitador para tanto é o professor, onde deve estar o principal investimento. O valor do acolhimento deve estar mais nas pessoas do que nos confortos materiais, que são muito benvindos, contanto que não sacrifiquem o investimento no potencial humano. E vejam, minha primeira formação profissional foi em arquitetura e urbanismo, um curso maravilhoso que me ensinou o valor do espaço, que é consequência inevitável das pessoas.

Mesmo que haja uma energia investida igualmente por ambas as partes – professor e escola – no antes e depois de uma aula, há um ponto importante que é o da responsabilidade do professor no momento da aula para com os alunos. A escolha do conteúdo a ser proposto, suas variações e adaptações para a compreensão dos indivíduos, a energia e o timing da aula, a atenção dada a demandas específicas e cuidados especiais que sempre surgem, tudo isso garantirá um nível de conforto, segurança física e psíquica dos alunos, e sua vontade de seguir estudando e praticando.

Portanto a responsabilidade do professor durante um curso é maior do que a exigida por parte do espaço, ao qual é suficiente garantir um mínimo de infra-estrutura. Confortos e acolhimentos extras no espaço devem ser frutos das sementes ali plantadas, e por sua vez enriquecem a experiência do plantio, mas não garantem a segurança de uma boa aula. Sem a presença focada e bem preparada do professor, na presença dos alunos nada acontece. Enquanto que o contrário ainda possibilita uma boa aula. Dando aulas como voluntários em projetos sociais entendemos bem isso. Por isso, entendo que uma escola assume um custo alto de “infra-estrutura” (englobando aí a física, como limpeza, ambientação e etc, e a não física, como gerenciamento de inscrições, funcionários, divulgação e etc), somente se tem um público que pode pagar um adicional por ele, não é mesmo? Então se é o caso, creio que ela não deve desconsiderar a contrapartida à energia investida pelo professor, em favorecimento dos confortos adicionais. Quando em um determinado contexto os alunos não podem pagar adicionais, priorizamos a aula em si, com entorno simples (salas, banheiros e água limpos e frescos).

Será muito bom quando nosso país tiver no professor um importante foco de investimento. Professores precisam ser remunerados para continuar estudando, desenvolvendo e aprofundando suas áreas de interesse; para desenvolver pesquisas; coordenar laboratórios e programas de formação para os alunos interessados; e finalmente para se encontrar e estudar juntos, partilhando seus saberes.

É importante que cada ser humano mantenha a luz acesa na consciência, cuidando para que seus valores não sejam obscurecidos por desejos imediatos. Existem professores importantíssimos, de pouca vivência acadêmica mas com valor humano inestimável, ensinando a muita gente estes valores elevados. Há outros autores de pesquisas importantes e sem recursos para desenvolvê-las. Há os que abrem e coordenam com dificuldade financeiras pequenas escolas ou cursos de grande valor. Há alguns poucos heróis da resistência, que sobrevivem, não se sabe como, após uma vida inteira de persistência, podendo na velhice ter um pouco de segurança e conforto para suas necessidades básicas e, com sorte, algum conforto. Porém, há milhares desmotivados, sofrendo violência de todos os tipos (moral e física) por parte dos alunos, dos pais destes alunos, ou mesmo por parte das próprias instituições de ensino. Esta maioria segue mal preparada e sem perspectivas. 

Desde que nascemos alguém nos ensina a sobrevivência, a nutrição, a segurança, o relacionamento, o caminhar. Como cresce uma pessoa sem mestres? Há 30 anos a profissão era muito respeitada e bem remunerada no Brasil. O que aconteceu? Por que perdemos a referência de sua importância? Acreditamos que matricular os filhos numa escola particular resolve parte da questão. Mas você sabe o que acontece internamente na escola onde seu filho estuda? Como são seus professores? Com quem ele está convivendo e aprendendo valores? Nos sentimos mais seguros ao escolher um professor que faz cursos e aprimora-se constantemente, não é mesmo? Já se perguntou com que recursos estes cursos são pagos? Já procurou saber de sua trajetória e do apoio e sustentação para seus estudos? Será que com a remuneração de seu trabalho este professor pode investir constantemente em sua própria formação, ou tem que buscar recursos em outra atividade “complementar”, desviando uma energia que poderia estar sendo usada me uma só direção? E você aluno, jovem ou maduro, filho, pai ou mãe, avô ou bisavô, tem se preocupado em manter-se em desenvolvimento, aprendendo, estudando e aprimorando seus saberes com alguma orientação? Tem se preocupado em se tornar um ser humano ainda melhor, em levar luz a aspectos esquecidos de sua inteligência? Somos todos responsáveis. Se valorizamos a sabedoria, devemos cuidar de mantê-la nutrida.

Imaginem se todos os professores e alunos recebessem suporte para aprimorarem-se, multiplicarem e promoverem  saberes. Imaginem se todos nós estivéssemos imbuídos constantemente do espírito do aprendiz? Imaginem que era luminosa viveríamos!

Esta é minha reflexão. Gostaria de ouvir a de vocês.

Com amor,
Fabiana.

Ps.: Na foto acima, B.K.S. Iyengar, mestre indiano "herói da resistência", que começou a dar aulas de Yoga num tempo e em circunstâncias totalmente desfavoráveis e hoje, aos 94 anos, encanta milhares de alunos por todo o mundo. 

4 comentários:

  1. Fabi, que lindo post. Estava mesmo pensando neste fim de semana sobre como sou afortunada de ter uma professora como você. Com delicadeza, firmeza e criatividade você ensina e estimula o aprofundamento no conhecimento. Tive muitos importantes professores na minha vida, que me colocaram em contato com o prazer e a aventura do aprender. Você tem sido um deles. A todos os mestres meu agradecimento e parabéns pelo dia dos professores!

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    1. Linda! Emocionei! Dá muito gosto dar aula pra vocês também!
      Beijo

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  2. Por que será que alguém vai se meter em ser professor? Não sei, só sei que é uma delícia poder ensinar, e acho até que o certo é dizer precisar ensinar. Bacana o que você escreveu! É fácil ver como o papel do professor está hoje desestruturado, perdido, sendo reflexo e causa das nossas tradições estarem de pernas bambas.
    Abração
    Marcos

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    1. Marcos! Grata pelo apoio, pela força, pela partilha de sempre! Com você e tantos colegas vamos construindo um lindo caminho de parcerias, práticas, experiências conjuntas, de Asanas, de suor e horas a fio em silêncio, só respirando e meditando. Puxa, tanta memória linda temos!
      Realmente, trata-se de "Precisar ensinar". É algo que transborda, que é inevitável, do qual não podemos viver sem.
      Hoje li uma coisa nos textos do Confúcio algo assim: O professor é um cara que está sempre atento a tratar de ensinar o que tem aprendido sozinho ou com outros mestres. É um ser que sobrevive da partilha.
      Grande abraço!

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