Depois daquele corpo que fiz...


Depois daquele corpo que fiz...
(ou quando a postura corporal esculpe a mente)

Virabhadrasana 1 é o nome de um Yoga Asana (palavra sânscrita que pode ser traduzida grosseiramente[1] como postura corporal yóguica). Virabhadra é um herói mitológico, originário do impacto de um fio de cabelo atirado ao chão após ter sido retirado dos cabelos emaranhados do grande Siva, deus da construção e da destruição, então enraivecido por ter perdido sua esposa que se suicidou por ter sido humilhada. Do encontro do cabelo com o chão emergiu o poderoso Virabhadra, que vingou-lhe em batalha vencida a morte da esposa. Virabhadrasana é portanto um Asana dedicado ao poderoso guerreiro criado por Siva a partir de seu fio de cabelo emaranhado.

Costumamos dizer no meio yóguico que realizar este Asana com dedicação, evoca e convoca em nós uma atitude de poder. Sua execução exige força, precisão (com ajustes corretos, que não só impedem a coluna vertebral de colapsar ou ser comprimida, mas promover expansão vertebral, otimizando bastante a respiração), concentração em cada uma das partes do corpo e ao mesmo tempo no conjunto das ações. Para executá-lo é preciso estar completamente imerso nesta tarefa. Durante aqueles segundos, nada mais existe no mundo, e o praticante é todo força, coragem, atitude positiva, vontade de vencer seus próprios obstáculos. Acontece então uma verdadeira batalha interna, onde emergem fantasias e fantasmagorias. E é quando conseguimos superá-las que de fato entramos o Asana. Nosso professor Faeq Biria diz que, dos Asanas de pé, este é o mais Pranayamico, ou seja, que mais ativa o Pranayama, que pode, também grosseiramente, ser traduzido como respiração. Aprofundando-se o significado de Pranayama, chega-se a uma das interessantes definições de BKS Iyengar:


Pranayama portanto tem um especial significado e importância em Yoga. Prana significa respiração, o ar e a vida por si só. Mas em Yoga, prana (em todos os seus cinco aspectos no Homem de Prana, Apana, Vyana, Udana and Samana[2]) é a própria essência do princípio de energização do mundo animado e inanimado. Permeia todo o universo. E Pranayama significa o controle total deste princípio de energização em seu próprio ser por meio de uma certa disciplina. Esta disciplina almeja não simplesmente uma boa saúde, um equilíbrio na energia física e vital, mas também a purificação de todo o sistema nervoso, objetivando maior capacidade de responder ao desejo do Yogi de controlar as urgências dos sentidos, e em fazer os poderes mentais mais sutis e sensíveis para a chamada do impulso evolutivo, a natureza [...] mais elevada no homem.”[3]   


Uma prática bem conduzida deste Asana de fato esculpe um estado mental vigoroso. Mas ele não vem sozinho. Sempre recomenda-se que a prática contenha Asanas de abertura (preparação para os vigorosos como Virabhadrasana) e de fechamento (onde aquietamos o corpo). No relaxamento final promovemos “a calma que o cérebro precisa para realizar a absorção da experiência e transformá-la em memória de longo prazo”[4].

Compartilho uma experiência pessoal em que tive de me munir de coragem e fiz bom uso de uma prática de Virabhadrasana 1 combinada a outras posturas de pé para ativar esta força interna. Há muitos anos decidi fazer um breve retiro sozinha, isolada da cidade, numa praia minúscula do litoral paulista onde só se tinha acesso via trilha pedestre ou barcos de pescadores locais. A época do ano não era de temporada, ou seja, na praia só estávamos eu numa cabana alugada de pescadores, e a comunidade local, composta por uma pequena igreja e uma média de 20 casas de famílias caiçaras, das quais eu havia conhecido apenas uma única mulher, seu marido e seu pequeno filho, que me alugaram a pequena cabana de um só cômodo. Não tínhamos luz elétrica na comunidade, e uma vez o banho gelado antes do pôr-do-sol garantido, quando caiu a primeira noite foi que me dei conta de que, dada a localização da cabana alugada, se algo a mim ocorresse no meio da noite, demoraria muito para que alguém soubesse. Senti medo, que sorrateiramente se transformou em pavor. Todos os ruídos da mata cresceram. Pensei em procurar ajuda, mas como me deslocar em meio àquela escuridão apenas munida de minha lanterna? As chances de me perder entre os caminhos da vila eram grandes. E também, ajuda para quê, especificamente? Mudar de cabana àquela altura da noite seria inviável. Afinal, nada havia acontecido. Me recolhi, fechei porta e janelas. Passado algum tempo, alguém bate na porta. Assusto. Respondo de dentro: pois não? Ouço a voz de um homem perguntando por alguém que não era eu. Respondo de novo que a pessoa não estava ali e que em nada eu lhe poderia ajudar. Ele insiste na pergunta e soma-se à voz dele a de um outro homem. Quase me apavoro, mas engrosso ainda mais a voz com toda a braveza que posso reunir e firmemente ordeno que se retirem, pois ali nada havia que lhes pudesse interessar. Silenciam. Tenho a sensação de que se afastam. Acendo mais velas e um incenso, pedindo proteção espiritual e física. As sombras das velas tornam-se imensas e assustadoras. Qualquer pequeno ruído é um sobressalto. Sinto-me acuada. A cabana fica aos pés de uma pequena encosta, que projeta uma sombra imaginária em toda a minha morada provisória. Sem sinal de celular. Nenhum meio de comunicação. Tento me conectar à força do mar, que não posso ouvir, pois estou a pelo menos 2km dele, mas posso sentir, com alguma concentração. Penso e repenso no que poderia fazer se acaso eles voltassem. Organizo um esquema mental. E começo uma prática de posturas de pé. Minha permanência em Virabhadrasana nunca foi tão longa e tão potente, tamanha a minha sede daquela força. Em meu corpo circula puro fogo, sangue quente. Minhas articulações rapidamente se soltam. Meus músculos fortes como nunca. Minha mente livre, absolutamente mergulhada, fundida naquilo. Era isso ou pirar de medo e impotência. Parecendo a única saída no momento, me entrego por completo. De todos os recursos, naquela noite, esta prática foi a que mais funcionou. Foi algo tão visceral, que nem tomei banho depois. Deitei na cama para o relaxamento final, com esperança de pegar no sono e ganhar noite adentro algum descanso merecido e gratificado por aquele começo desafiador de meu retiro ter se resolvido bem. No dia seguinte, a primeira coisa que fiz depois do precioso banho de mar foi reportar o ocorrido à família que me alugou a casa. Tradicional na simplória comunidade, mesmo que em sua vida de poucos recursos, a família tinha respeito e autoridade social entre os seus. A esposa me conta que já ocorreu outras vezes e que, de fato, há homens que procuram por turistas que queiram pagá-los em troca de sexo. Quase desisto de meu retiro quando ouço a notícia, mas ela me garantiu que havia um código que todos respeitavam: sendo a comunidade avisada que não era o caso, e que meu interesse ali era um retiro absoluto e que não queria ser incomodada, assim seria. Duvido por alguns minutos de aquela mulher simplesmente estar interessada em garantir a renda do aluguel. Examino-a com mais cuidado. Ele me garante, fixando o olhar. Sinto alguma confiança nela, que chama o marido e o faz ir até uma das rodinhas de caiçaras e lançar o primeiro aviso, pedindo que se espalhe. Não sei se acho bom ou se fico mais preocupada ainda. Ela me garante de novo, pede desculpas pelo transtorno, o marido idem. Ficam constrangidos. Vivendo e aprendendo. Quando é que eu imaginaria algo do tipo há tanto tempo atrás? O fato é que, uma vez o código anunciado, tive total privacidade em meu retiro de cinco dias de silêncio. Segui todos os dias praticando na cabana, de modo que minha energia pessoal se tornou firme. Nas noites que seguiram, manifestaram-se minhas questões internas mais profundas, que emergem quando se está sozinho em situação de retiro, sem falar com ninguém. Pra lidar com elas, lancei mão de meditações, reflexões e da prática, fogo que queima.

É claro que tive sorte de estar numa comunidade de código ético (relativamente) íntegro. Posto isto, ainda assim ter passado por uma situação limite como esta com o apoio daquela poderosa prática enraizou em minha memória corporal e emocional seus efeitos. Principalmente de Virabhadrasana 1. Sempre que preciso deste tipo de energia vital circulando, a primeira memória instantaneamente ativada é a desta experiência. Inesquecível, de força didática impressionante. 

Mas podemos assumir que meu depoimento é suspeito, já que vem do interesse de ratificar todo o texto acima. Por isso abro um espaço aqui para depoimentos sobre efeitos psíquicos objetivos de práticas yóguicas. Partilhas são benvindas e úteis, como pequenas flores na beira da estrada, que ajudam a compor os sentidos da jornada do yoga.

Namastê!



REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

[1] Grosseiramente, pois Asana também significa Assento. Da mente no corpo. Da alma no corpo. Da alma na mente. Do corpo na alma, e assim sucessiva e reciprocamente. Asana tem sentidos abrangentes, como toda palavra sânscrita, que é uma língua extremamente filosófica. Pra começar, a cultura sânscrita acredita que o som de cada letra vibra em nossos centros energéticos, pontos por onde se cruzam os canais sutis que conduzem a energia vital, que flui em nosso corpo. Estes pontos, chamados também de chacras, onde os canais de energia vital (ou Prana) se cruzam, tornam-se poderosos vórtices, centros de energia, com qualidades específicas, advindas da maneira como os canais ali se encontram e do posicionamento na região do corpo, cada uma com suas características e funções também específicas. Portanto, se cada letra do alfabeto sânscrito vibra em determinados centros energéticos, ativando-os, alterando seus estados, estes sons teriam o poder de mudar o estado de características de nossa energia vital. E até mesmo dela toda. Imaginem enfim o que pode ocorrer com palavras inteiras. Este é o poder do canto de mantras, por exemplo, segundo a cultura do Yoga.
[2] Apana, Vyana, Udana, Samana: diferentes modos do fluxo de Prana no corpo.
[3] IYENGAR, BKS. Light on Pranayama – the Yogic Art of Breathing. New York: Crossroad, 2004. P. XVii.
[4] ROBIN, MEL. A physiological handbook for teachers of yogasana. Tucson: Fenestra Books, 2002. P. 42.
A complexidade do universo jamais poderemos abarcar. Seja o que for que encontremos como suposta verdade, será sempre nosso recorte dela. A grande maioria das forças que nos regem são desconhecidas. A ciência tenta mas não consegue explicar inúmeros fenômenos. O avesso de cada um permanecerá misterioso. Mesmo que se trabalhe incansavelmente para acessá-lo, tornando-se mais e mais íntimo de si, é certo que desse poço sem fundo a surpresa sempre virá. Ainda assim, vale a labuta homérica de seguir mergulhando no abismo, fazendo contato. Depois de cada mergulho, quando uma pequena luz se acende e vemos a boca (a saída) da caverna, voltamos ao mundo com os sentidos um pouco mais límpidos e aguçados pra quem sabe, rever nosso recorte da realidade. É um sem-fim.
"A repartição de intensidades"

Cartografando a experiência

A Cartografia é a arte de desenhar mapas. Mas pode também ser usada para definir o modos operandi de uma atitude por meio da qual podem ser vividas, vistas, revistas, sentidas, escolhidas e editadas as experiências na vida. Trata-se de uma proposta construtivista, por meio da teoria das multiplicidades, para pesquisa-intervenção e produção de subjetividade, sistematizada pelos pesquisadores brasileiros Eduardo Passos, Virgínia Kastrup, Liliana da Escóssia e Sueli Rolnik, entre outros, em seu livro "Pistas do método da cartografia". O conceito deriva do pensamento de Gilles Deleuze e Félix Guattari, franceses do século XX, e tem como um de seus importantes marcos o texto Rizoma, publicado inicialmente por D&G de forma isolada em 1980, e que depois tornou-se a introdução da série Mil Platôs, dos mesmos autores.

Rizoma descreve a experiência de cartografar, que seria a produção de uma rede de conexões, com a intenção de mobilizar uma outra leitura, uma outra escuta, ou mesmo a utilização de todos os sentidos ao mesmo tempo enquanto se está em campo de pesquisa. O pesquisador cartógrafo está implicado, mergulhado por inteiro no campo. Ele não é mais apenas observador imparcial, até porque esta idéia é ilusória, já que a própria presença do pesquisador já modifica o meio de pesquisa. O cartógrafo então se coloca disponível dentro deste coletivo de forças, atravessamentos, afetos, nos platôs que são as zonas de intensidade independentes e interconectadas. Esta idéia de rizoma como a raiz de uma planta nos ajuda a entender até mesmo a forma como naturalmente pensamos ou como o conhecimento se organiza, de acordo com a interação com o mundo.

No texto Como criar pra si um corpo sem órgãos, que consta no volume 3 da série Mil Platôs, D&G referem-se ao corpo não funcional, o corpo de intensidades: “O corpo é tão somente um conjunto de válvulas, represas, comportas, taças ou vasos comunicantes: um nome próprio para cada um, povoamento do CsO, Metrópoles que é preciso manejar [...]. O que povoa, o que passa, o que bloqueia?”

Muito diferente da proposta de rizoma é a estrutura tradicional de uma pesquisa hierárquica, em forma de árvore, vertical, com começo, meio e fim, uma unidade. Assim é a maioria dos livros produzidos no ocidente, por exemplo. Mas D&G propõem a estrutura aberta e horizontal, rizomática, em que se tem perguntas como pontos de partida, e se mantêm constantemente conexões, guiadas por aquelas perguntas, mas sem um percurso pré-estabelecido. Com o caminhar, ao perceber que se está de novo recaindo numa fórmula engessada, se traça uma linha de fuga, para uma nova e ainda não explorada rota, completamente própria daquele objeto de pesquisa, daquele contexto em seu determinado tempo e com linguagem adequada. Admitindo-se que a realidade não se repete um segundo sequer igual ao outro, não faria de qualquer maneira sentido repetir fórmulas para se chegar a resultados esperados, e sim cria-las conforme as circunstâncias demandam e, em resposta às demandas observadas e captadas pelos sentidos, deixar emergirem respostas.

Sendo assim, não há risco de não se chegar no resultado esperado, pois não há um resultado esperado, e sim a construção das respostas conforme se caminha. A multiplicidade é advinda não só do inconsciente, mas torna-se também parte do processo consciente de percepção e resposta. Rizoma é uma multiplicidade heterogênea sem unidade, mas com a possibilidade de conexão, sem hierarquia, sem centro, sem organização piramidal. O rizoma não produz significação, mas rotas de fuga. É um mapa, resultado de um processo cartográfico, mas é um rascunho sempre, é processo, implica em constante transformação. Até pode ter um planejamento, mas este pode ser modificado conforme se caminha nas conexões, relacionamentos, atravessamentos. Segundo D&G, há muitas entradas possíveis, muitas saídas possíveis. É possível percorrer o caos, o caos é possibilidade, mas se há somente caos absoluto não ocorre produção, e sim apenas loucura.

O rizoma e a árvore não são necessariamente opostos. Dos rizomas nascem árvores, e das axilas dos galhos das árvores podem surgir novas rotas de fuga, dando origem a novos rizomas. Toda árvore é um possível rizoma. Mas todas as linhas de fuga que deram origem a um rizoma sempre são facilmente capturadas pelos padrões. Exemplos disso são, na cultura, o movimento punk, ou o hippie. Portanto cartografar exige esforço constante e incansável.

Sobre os perigos de, ao usar um método tão aberto, perder-se no caminho, tornando-se a construção de respostas inócuas ou anêmicas, D&G alertam sobre a necessidade das injeções de prudência, de se ter algumas linhas ou fios condutores, para haver produção e alguma inteligência. Cartografar forças que compõem determinado fluxo. Para isso é preciso ser capaz de medir e administrar as intensidades, as medidas, pra que as tensões que surgem sejam tensões de relacionamento e não de ruptura, que não possibilitariam pesquisa e criação. Estas medidas não são pré-definidas, mas constituídas ao longo da pesquisa, do caminhar.

A cartografia se opõe à cópia, à reprodução. Mapear é diferente de decalcar. Mapa é produzido ao longo do percurso, como quem está percorrendo um espaço e vai construindo o mapa simultaneamente. É a própria atividade de cartografar. Mas ainda seria possível colocar um novo mapa sobre uma cópia, decalca-lo porém mapear sobre ele. Criar, proliferar, multiplicar sobre a cópia. O rizoma é uma instância de produção de desejo, porque é aberto. E o desejo pode ser usado como fonte de produção. A cartografia é a garantia de que o manejo com as experiências da vida seja legítimo, genuíno, de que não se torne uma cópia, um clone de outras experiências.

Referenciais bibliográficos
DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Felix. Rizoma. In Mil Platôs, Vol. 1. São Paulo: Editora 34, 2011.
DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Felix. Como criar para si um corpo sem órgãos. In Mil Platôs, Vol. 3. São Paulo: Editora 34, 1999.
PASSOS, E.; DA ESCÓSSIA, L.; KASTRUP, V. Pistas do método da cartografia – pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2012.

Ps.: Este texto foi inspirado em minhas leituras e notas de aula durante a disciplina "Pesquisa em artes - a cartografia como método", ministrada pelos professores Renato Ferracini, Sérgio Carvalho e Silvio Galo na pós-graduação do Instituto de Artes da Unicamp, durante o segundo semestre de 2013. 

  A sociologia da saúde

“Por aproximadamente 200 anos as ideias ocidentais dominantes sobre a medicina foram expressadas no modelo biomédico da saúde. Este entendimento de saúde e doença se desenvolveu juntamente com o crescimento das sociedades modernas. De fato, ele pode ser visto como um dos principais aspectos destas sociedades. Sua emergência estava intimamente relacionada com o triunfo da ciência e da razão sobre explicações tradicionais ou religiosas para o mundo (vide discussão de Max Weber sobre a racionalização)... (GIDDENS, 2012).”

Para compreender melhor o modelo biomédico, consideremos o contexto social em que surgiu. Os tratos com a saúde nas sociedades tradicionais “baseavam-se em remédios, tratamentos e técnicas de cura populares, que eram passadas de geração para geração. Doenças costumavam ser consideradas em termos mágicos ou religiosos, e eram atribuídas à presença de espíritos do mal ou ‘pecado’. Para os camponeses e moradores comuns da cidade, não havia autoridade externa que se ocupasse com sua saúde, na forma dos Estados e sistemas de saúde atuais. A saúde era uma preocupação privada, e não uma questão pública.
A ascensão do Estado-Nação e a industrialização [...] gerou uma mudança nas atitudes para com as pessoas locais, que já não eram apenas habitantes da terra, mas uma população submetida ao governo de uma autoridade central [...] vista como um recurso a ser monitorado e regulado como parte do processo de maximizar a riqueza e o poder da nação. O Estado começou a ter um interesse maior na saúde da população, pois o bem-estar de seus membros afetava a produtividade. [...] O censo foi introduzido para registrar e monitorar as mudanças que ocorriam [...] (como) taxas de natalidade, mortalidade, casamento, suicídio, expectativa de vida, dieta, doenças comuns, causas de morte e assim por diante (GIDDENS, 2012).”

“Michel Focault (1926-1984) fez contribuição influente para a nossa compreensão da ascensão da medicina moderna, [...] a regulação e educação para o corpo pelos Estados europeus (1973). [...] a sexualidade e o comportamento sexual [...] maneira como a população poderia se reproduzir e crescer, e uma ameaça potencial à saúde e bem-estar. A sexualidade desconectada da reprodução era algo a ser reprimido e controlado (GIDDENS, 2012).”

“A ideia de saúde pública tomou forma na tentativa de erradicar patologias da população – o ‘corpo social’. [...] Toda uma série de instituições, como prisões, albergues, asilos, escolas e hospitais, emergiu como parte do movimento para monitorar, controlar e reformar pessoas (GIDDENS, 2012).”

“A doença passou a ser definida de maneira objetiva, em termos de ‘sinais’ objetivos identificáveis no corpo, ao contrário de sintomas que o paciente sentia. O tratamento médico formal por ‘especialistas’ formados se tornou a forma aceita de tratamento para doenças físicas  ementais (GIDDENS, 2012).”

MODELO BIOMÉDICO
Premissas
Críticas
A doença é um desarranjo do corpo humano, causada por um agente biológico específico.
A doença é uma construção social, e não algo que possa ser revelado pela “verdade científica”.
O paciente é um ser passivo, cujo “corpo doente” pode ser tratado separadamente de sua mente.
As opiniões e experiências do paciente com sua doença são cruciais para o tratamento. O paciente é um ser ativo e “integral”, cujo bem-estar geral – e não apenas a saúde física – é importante.
Os especialistas médicos possuem “conhecimento especializado” e oferecem o único tratamento válido para as doenças.
Os especialistas médicos não são a única fonte de conhecimento sobre a saúde e a doença. Formas alternativas de conhecimento são igualmente válidas.
A arena apropriada para o tratamento é o hospital, onde a tecnologia médica está concentrada e é mais bem empregada.
A cura não precisa ocorrer em um hospital. Os tratamentos que usam tecnologia, medicação e cirurgia não são necessariamente superiores.
Fonte: GIDDENS, 2012. P 284

“Ivan Illich (1975) chegou a sugerir que a medicina modera havia feito mais mal do que bem por causa de iatrogênese, ou ‘doenças autocausadas’.” (GIDDENS, 2012) Os três tipos de iatrogênese descritas por Illich são clínica, social e cultural. Na clínica o tratamento médico deixa o paciente pior ou cria novas condições. Na social a medicina se expande para novas áreas e cria demandas artificial por seus serviços. Esta, leva à iatrogênese cultural, na qual a capacidade de lidar com obstáculos da vida cotidiana é reduzida ou desacreditada por explicações médicas. Um bom exemplo de iatrogênese são os inúmeros relatos de gestantes e parturientes sobre intervenções médicas no processo do parto, que tantas vezes se mostram precipitadas pela escolha de cesariana quando, na verdade, bastava o auxílio de uma parteira experiente para realizar manobras como o desenrolar do cordão umbilical do pescoço do bebê ou mesmo massagens suaves que auxiliam o ‘encaixe’ do feto na pelve, posicionando-o adequadamente para o parto natural.
É claro que pesquisas e avanços tecnológicos da medicina moderna trouxeram inúmeras facilidades para o tratamento e a cura de algumas patologias, mas para críticos como Illich, o âmbito da medicina convencional deveria ser amplamente reduzido. Segundo estes críticos, o “tratamento efetivo somente pode ocorrer quando o paciente for tratado como um ser pensante e capaz, com suas próprias compreensões e interpretações da vida (GIDDENS, 2012).”
Neste contexto, práticas ancestrais desenvolvidas por civilizações orientais, que por serem mais antigas que as ocidentais tiveram mais tempo de aprimorá-las, têm sido progressivamente resgatadas, chamadas de “medicina alternativa”, e incluídas em instituições que durante a modernidade foram consideradas centros de excelência do modelo biomédico, como hospitais e unidades de atendimento básico à saúde, entre outros. Profissionais experientes em homeopatia, acupuntura e fitoterapia são hoje parte das redes credenciadas e  catálogos de planos de saúde.
Há ainda um caminho a ser traçado pelo Yoga neste sentido. O impacto de suas práticas no corpo-mente dos sujeitos, interligando-lhes todos os seus sistemas, está registrado não só em inúmeros textos antigos, desde os filosóficos como os Yoga Sutras de Patãnjali, até mais pragmáticos como Hatha Yoga Pradipika, mas também em teses de cunho acadêmico em grandes universidades contemporâneas como Berkley, na Califórnia (EUA). Estes centros de estudo já chegaram a incluir mestres de meditação como parte do corpo docente. A UCR – University of California Riverside oferece o Programa de estudos especializados em Yoga (Fundamentals of Yoga Specialized Study Program), certificado pelo método Iyengar Yoga.
No Brasil encontram-se algumas iniciativas isoladas. A boa notícia é que foi aprovada uma lei, inclusa na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), que prevê o atendimento ao público com práticas de cuidados integrativos, ou seja, os saberes e cuidados tradicionais com a saúde física, mental, emocional e espiritual. Assim, a rede pública pode oferecer como atendimento à população, cuidados e tratamentos como acupuntura, chi kung, reiki, dança circular, ervas, meditação, massagens, entre outros tratamentos, antes chamados de alternativos e que agora são entendidos como complementares. Esta é a transição do modelo biomédico para o pensamento integrado. Não é preciso descartar nenhum saber conquistado, apensas integrá-los, usando-os com parcimônia, conforme a necessidade.
O problema ainda parece ser o senso crítico na hora da escolha pelo tipo de tratamento por parte dos indivíduos. Seja quando  sujeito está na “pele”  de quem será beneficiado, seja quando está na “pele” de  terapeuta ou médico. Esta sabedoria se constrói pela experiência. Permita-se conhecer os recursos disponíveis.  
Referencial bibliográfico: GIDDENS, A. Sociologia. 6ª ed. Porto Alegre: Penso, 2012. 

Como está seu corpo hoje?

Ilustração: Fabiana Rodrigues Barbosa.
Você acorda de manhã e quando vai se espreguiçar nota seu corpo estranhamente mais rígido que de costume. Faz uma varredura na memória tentando encontrar razões físicas. Não encontra nada. Levanta-se, vai até a cozinha, bebe água. Ainda um pouco sonolento deixa cair algo no chão. Abaixa-se pra pegar, e agora um pouco mais acordado, percebe os músculos das pernas, abdômen e das costas teimosos, cansados, não respondem adequadamente. Segue o mistério. Uma gripe? Noite mal dormida? Não. Você está se esquecendo das causas emocionais. Uma discussão, uma preocupação aguda com alguém, um episódio de angústia são algumas das emoções que podem causar rigidez e fadiga muscular.  
Na última vez em que estive em Pune, Índia, estudando no RIMYI[1], ouvi de BKS Iyengar[2], ao ensinar um dos professores do Instituto, que sua perna estava prepotente, que se recusava a cooperar no Asana[3]. Aquela perna preguiçosa, parecia satisfeita com o próprio desempenho e, iludida, havia estagnado num patamar aquém de suas possibilidades. Sr. Iyengar inquiria severamente o professor se pretendia continuar permitindo que isso ocorresse.  
Usar para partes do corpo adjetivos geralmente empregados para personalidade ou comportamento das pessoas é um interessante recurso para estimular a conexão corpo-mente. Este excelente professor ao qual Iyengar se dirigia, também excelente praticante, não estava percebendo que há anos executava aquele Asana sem conseguir a máxima cooperação de sua perna. Ele achava que estava comandando àquela parte do corpo que fizesse o que ele queria, mas não estava. A perna permanecia com áreas escuras, sem luz, sem penetração da consciência. Ou seja, havia ainda, mesmo depois de anos a fio refinando sua prática, partes de seu corpo ainda na obscuridade, que impediam que ele se desenvolvesse ainda mais e expandisse em graus mais elevados sua consciência de si.
Quando ao praticar procuramos observar com olhar interno atento, o olhar dos poros da pele abertos, e tentamos identificar com adjetivos as partes de nosso corpo, podemos romper esta barreira. Por exemplo, há joelhos excessivamente permissivos, o que resulta em hiperestensão. Há ombros intransigentes, o que resulta em rigidez nesta articulação, e geralmente um peito fechado, trapézios tensos, respiração curta e superficial. Há corpos pouco assertivos, em que a musculatura não se encontra aderida aos ossos e sim espalhada pra longe deles, frouxa. São corpos com pouca sustentação, onde os ossos não têm direção clara, estão soltos, talvez assim como os propósitos daquela mente não estão aderidos à essência da subjetividade daquela pessoa ou, ainda um pouco menos grave, alguns aspectos do comportamento diário não estão exatamente em concordância com seus propósitos mais profundos. Há cotovelos passivos, que não sabem resistir, ao mesmo tempo que não sabem contar com a colaboração de seus vizinhos bíceps e tríceps para, com forças reunidas, sustentar braços firmes, que ajudam a posicionar escápulas, pescoço e cérebro, o que resultaria numa mente mais focada. E o que é que se pode construir na vida sem foco?  
Poderíamos seguir por minutos a fio a encontrar íntimas relações entre corpo físico e atitude mental. E isso ocorre pelo simples fato de que CORPO É MENTE. Trata-se de um princípio da neuropsicologia chamado Monismo.
Assim, neste exercício de refinamento de conexão mente-corpo, partimos de perguntas como “Que pulsão habita meu corpo agora?”,  “Qual devir se encontra manifesto na postura de minha coluna vertebral?”, “Se minha cabeça tende sempre a inclinar-se adiante do resto de meu corpo, chegando antes dele, qual devir está aí agindo?”, “Quando tenho a musculatura das costas ao mesmo tempo tonificada e relaxada, consigo manter por muito tempo, de maneira contínua e com pouco esforço minha cabeça em linha com o resto da coluna vertebral, meu cérebro é melhor oxigenado e tenho um centro claro, qual pulsão aí tende a habitar? Que devires se manifestam com mais frequência?”
É claro que nada disso é simples, pois os aspectos de nossa subjetividade acendem-se e apagam-se de maneira complexa, misturando tintas, produzindo meios tons, memórias misturando-se com percepção do tempo presente, sombras semi-permeadas de luzes. Nada é definitivo, estamos o tempo todo em construção. Nossas experiências formam quem somos, disse John Locke[4].
Yoga é um exercício de empirismo. Tem como base esta crença, que ao longo dos séculos vem tornando-se científica graças e estudiosos de veia ao mesmo tempo experimental e acadêmica. Estes estudiosos, pensadores, professores de áreas do saber como a filosofia, a neurociência, a psicologia cognitiva, os estudos motores, bioenergéticos, entre outros, vêm produzindo e publicando subjetividades caras ao desenvolvimento humano. Figuras como os pré-socráticos sofistas Protágoras e Górgias, Spinoza, o próprio Locke, Focault, Deleuze, Guattari são essenciais. A atual psicologia comportamental, que dá ênfase às interações entre as emoções, pensamentos, comportamentos e estados fisiológicos, chega ao ponto de postular a não existência da mente e concebe o ser humano como um todo, e tem como base teórica a atuação dos psicólogos behavioristas Edward L. Thorndikel e John Watson.
B.F. Skinner fundou uma das filosofias que embasam a análise experimental do comportamento. Dizia que o organismo teria três tipos de comportamentos: o padrão fixo de ação; o comportamento respondente (100% inatos) e o operante (100% aprendidos). Segundo Skinner, o homem será influenciado por fatores filogenéticos, ontogenéticos e culturais, tendo como parâmetro teórico o selecionismo de Charles Darwin.
Ora, sabe-se na genética contemporânea que o padrão genético de um indivíduo não o determina, ou seja, os genes podem ou não se expressar. No que implica a expressão ou não destes genes? Todas as teorias citadas acima, bem como o Yoga, acreditam que as combinações entre nossas escolhas, ações, pensamentos e mapa genético é que constroem quem somos, empiricamente.


[3] Asana = postura corporal yóguica
[4] John Locke, filósofo e ideólogo inglês, considerado o principal representante do empirismo britânico.

Mulher barriguda, que vai ter menina*


Ilustração: Fabiana Rodrigues Barbosa.

Gestantes, parturientes. Tenho algumas alunas que se encontram neste momento. Todas grávidas de meninas. Este post vai pra elas.
Mulheres, o Yoga começa agora. Sua maternidade começa no momento em que você decide. Sua filha ainda não nasceu, mas você está prestes a dar à luz. Você se preocupa, pois o ultrassom mostra o bebê ainda não completamente encaixado. Sua médica diz pra você não se preocupar, pois sempre há a possibilidade da cesárea. Você baixa os olhos, entende que sim, se for necessário, é claro, a prioridade é a saúde e a segurança de sua filha. Mas ainda tem expectativas sobre o parto natural, pois não há determinantes suficientes que afirmem a necessidade vital da cesárea. Quase se frustra, mas engole a seco e tenta seguir pensando positivo. Por um momento, sentindo-se impotente, procura em seus arquivos mentais algo que se possa fazer pra que este bebê encaixe. Algo que sua avó lhe disse, uma simpatia, um dito popular, artigo científico, alguma luz para que seja possível este parto natural. Sabe que será melhor pro bebê e pra você. Sabe que o corpo assim seguirá com naturalidade fisiológica, levando suas emoções e as de sua filha para um lugar de vitalidade, segurança e contentamento. Você está na quadragésima semana. E ainda há tempo.
Como o Yoga pode te ajudar? O que tenho visto nos últimos seis anos ministrando aulas para uma diversidade de perfis sócio-anatômico-culturais de gestantes é a seguinte amostragem: dentre as mulheres que praticam Yogasanas (posturas físicas e exercícios respiratórios do Yoga) apropriadamente conduzidos por um professor experiente durante a gestação, a maioria faz parto natural. 1) Porque na prática yóguica ela treina um estado de auto-observação, conectando-se de maneira refinada com o próprio corpo e tem mais chances de apropriação e boa “navegação” em meio às variáveis mente-corpóreas que se dão neste período da vida; 2) Porque ela é beneficiada pelos efeitos fisiológicos (que vão do equilíbrio hormonal e ganho de tônus, flexibilidade muscular, articular ao aprendizado de uma respiração eficaz) e psíquicos desta prática. O melhor é que você já venha praticando há algum tempo, desde antes da gestação, ou pelo menos desde o início dela. E se você tem uma professora que estuda a prática para gestantes, tem ouro nas mãos. Há uma série de Yogasanas, manobras corporais e respiratórias que promovem desde os primeiros dias de gestação até o desmame de seu filho um bem-estar inimaginável, que desmente falas populares como “ser mãe é padecer no paraíso”. Sim, algumas dores são inevitáveis. Por isso é importante que você aprenda a re-significá-las e administrá-las. Mas muitas outras dores você pode evitar, simplesmente com construção de consciência, ou seja, estrutura física e mental.
Podemos por exemplo refletir sobre o mito de que, se o bebê não está encaixado até o início do trabalho de parto, a indicação é a cesariana. O que muitas mães e até mesmo muitas médicas não sabem é que, sim, é possível você ajudar seu bebê a se encaixar na pelve de maneira adequada. Há inúmeros fatores – muitos desconhecidos – sobre os quais se especula a razão de o bebê encaixar ou não quando se aproxima a hora do parto. Independente destas causas, o corpo é seu. Você ainda tem controle sobre ele, e deve nutrir uma prática que refine sua conexão mente-corpo, de modo a manter sua percepção ativa e aguçada sempre que necessário. Sabemos que uma das diversas funções dos pais é direcionar seu filho, ensinar-lhe foco, estimulá-lo a caminhar. Esta atitude deve começar no período pré-parto. Você convida sua filha a nascer. Mostra a ela a direção, dá-lhe um estímulo, diz o quanto está esperando para lhe mostrar tantas coisas bonitas aqui fora. Ela vai sair de sua caverna para uma outra experiência, de grandes emoções. Que venha à vida! Na última semana de gestação, usando suas pernas e braços, com toda a gentileza, suavidade e carinho, você diminui lentamente o espaço de um lado do abdômen e abre mais espaço do outro lado. Para tanto você precisa saber onde estão cabeça, costas e pés, pois assim vai conduzir sua filha à direção correta. O ultrassom pode ajudar, mas como a vida é absolutamente dinâmica, do momento em que sai da sala do último exame até este em que aqui me lê, seu estado intra-uterino pode já ter mudado. Você tem que olhar para seu ventre como quem quer ver, sentir, apalpar, até ter certeza. Deve conduzir a cabeça para que encaixe em sua pelve. Se você não tem uma prática de yoga constante, ou não tem uma professora que saiba fazê-lo, procure uma. Muitos médicos não sabem que isto é possível. Todas as doulas devem saber. Mas não faça sozinha algo de que não tem conhecimento. Você deve trabalhar com segurança. Mente, respiração e mãos firmes, gestos certeiros e amorosos, que expressem confiança. Este é um momento de grande desafio também para sua filha, que não tem a mesma consciência que você ainda, mas já tem alguma. Ela sente o que está por vir, e com sua condução segura você a auxilia. Afinal, seu objetivo é convidá-la a participar de seu próprio nascimento, mostrar o que ela pode fazer. Você a estará ensinando maturidade, responsabilidade, e vai impulsioná-la à luz mais facilmente.
Na hora do parto, evite se deitar. É preciso trabalhar com a gravidade a seu favor. Cócoras, usando uma banqueta apropriada. Ou sentada na banheira. Você, de posse da consciência corporal, vai perceber qual a melhor posição. Precisa busca-la. Cada mulher tem a sua, nem sempre as escolhas são parecidas. A orientação de um profissional de sua escolha ajuda muito. Sempre recomendo a contratação de uma doula ou parteira em quem confie. Elas estudam, têm muita prática e conhecem manobras salvadoras que a medicina convencional não usa. A cesárea deve ser a última saída, quando de fato constata-se risco para bebê e mãe. Desconfie de médicos que apelam rapidamente a esta cirurgia. Procure se informar com antecedência. Seja ativa neste processo, aproprie-se de seu corpo, de sua gestação, parto e lactação. Não se entregue a nada cegamente, esteja sempre com a respiração suave, macia, profunda, a mente alerta, os pés firmes e espalhados no chão. Procure aterramento. A mãe é como a terra para seu filho, sem deixar de ser também água. Nutrição, apoio, refresco.
Quando esta filha (e você como mãe) nascer, parabenize-a, procure mantê-la em seu peito. Deixe-a ali, sentindo seu cheiro, sua presença. Dê-lhe forças e boas vindas. Abrace-a pra que se sinta segura desde já, quando tudo está começando pra ela.
Desejo-lhes uma boa hora!
Com carinho.
Namastê!

O título deste post é uma paródia à primeira estrofe da música "Mulher Barriguda", do compositor Solano Trindade,  interpretada pela banda Secos e Molhados.