Ilustração: Fabiana Rodrigues Barbosa. |
Gestantes, parturientes. Tenho algumas alunas
que se encontram neste momento. Todas grávidas de meninas. Este post vai pra
elas.
Mulheres, o Yoga começa agora. Sua maternidade
começa no momento em que você decide. Sua filha ainda não nasceu, mas você está
prestes a dar à luz. Você se preocupa, pois o ultrassom mostra o bebê ainda não
completamente encaixado. Sua médica diz pra você não se preocupar, pois sempre
há a possibilidade da cesárea. Você baixa os olhos, entende que sim, se for
necessário, é claro, a prioridade é a saúde e a segurança de sua filha. Mas
ainda tem expectativas sobre o parto natural, pois não há determinantes
suficientes que afirmem a necessidade vital da cesárea. Quase se frustra, mas
engole a seco e tenta seguir pensando positivo. Por um momento, sentindo-se
impotente, procura em seus arquivos mentais algo que se possa fazer pra que
este bebê encaixe. Algo que sua avó lhe disse, uma simpatia, um dito popular, artigo
científico, alguma luz para que seja possível este parto natural. Sabe que será
melhor pro bebê e pra você. Sabe que o corpo assim seguirá com naturalidade fisiológica,
levando suas emoções e as de sua filha para um lugar de vitalidade, segurança e
contentamento. Você está na quadragésima semana. E ainda há tempo.
Como o Yoga pode te ajudar? O que tenho visto nos
últimos seis anos ministrando aulas para uma diversidade de perfis sócio-anatômico-culturais
de gestantes é a seguinte amostragem: dentre as mulheres que praticam Yogasanas
(posturas físicas e exercícios respiratórios do Yoga) apropriadamente
conduzidos por um professor experiente durante a gestação, a maioria faz parto
natural. 1) Porque na prática yóguica ela treina um estado de auto-observação,
conectando-se de maneira refinada com o próprio corpo e tem mais chances de
apropriação e boa “navegação” em meio às variáveis mente-corpóreas que se dão
neste período da vida; 2) Porque ela é beneficiada pelos efeitos fisiológicos (que
vão do equilíbrio hormonal e ganho de tônus, flexibilidade muscular, articular
ao aprendizado de uma respiração eficaz) e psíquicos desta prática. O melhor é
que você já venha praticando há algum tempo, desde antes da gestação, ou pelo
menos desde o início dela. E se você tem uma professora que estuda a prática
para gestantes, tem ouro nas mãos. Há uma série de Yogasanas, manobras
corporais e respiratórias que promovem desde os primeiros dias de gestação até
o desmame de seu filho um bem-estar inimaginável, que desmente falas populares
como “ser mãe é padecer no paraíso”. Sim, algumas dores são inevitáveis. Por
isso é importante que você aprenda a re-significá-las e administrá-las. Mas
muitas outras dores você pode evitar, simplesmente com construção de
consciência, ou seja, estrutura física e mental.
Podemos por exemplo refletir sobre o mito de
que, se o bebê não está encaixado até o início do trabalho de parto, a
indicação é a cesariana. O que muitas mães e até mesmo muitas médicas não sabem
é que, sim, é possível você ajudar seu bebê a se encaixar na pelve de maneira
adequada. Há inúmeros fatores – muitos desconhecidos – sobre os quais se
especula a razão de o bebê encaixar ou não quando se aproxima a hora do parto.
Independente destas causas, o corpo é seu. Você ainda tem controle sobre ele, e
deve nutrir uma prática que refine sua conexão mente-corpo, de modo a manter
sua percepção ativa e aguçada sempre que necessário. Sabemos que uma das
diversas funções dos pais é direcionar seu filho, ensinar-lhe foco, estimulá-lo
a caminhar. Esta atitude deve começar no período pré-parto. Você convida sua
filha a nascer. Mostra a ela a direção, dá-lhe um estímulo, diz o quanto está
esperando para lhe mostrar tantas coisas bonitas aqui fora. Ela vai sair de sua
caverna para uma outra experiência, de grandes emoções. Que venha à vida! Na
última semana de gestação, usando suas pernas e braços, com toda a gentileza,
suavidade e carinho, você diminui lentamente o espaço de um lado do abdômen e
abre mais espaço do outro lado. Para tanto você precisa saber onde estão
cabeça, costas e pés, pois assim vai conduzir sua filha à direção correta. O
ultrassom pode ajudar, mas como a vida é absolutamente dinâmica, do momento em
que sai da sala do último exame até este em que aqui me lê, seu estado
intra-uterino pode já ter mudado. Você tem que olhar para seu ventre como quem
quer ver, sentir, apalpar, até ter certeza. Deve conduzir a cabeça para que
encaixe em sua pelve. Se você não tem uma prática de yoga constante, ou não tem
uma professora que saiba fazê-lo, procure uma. Muitos médicos não sabem que
isto é possível. Todas as doulas devem saber. Mas não faça sozinha algo de que
não tem conhecimento. Você deve trabalhar com segurança. Mente, respiração e
mãos firmes, gestos certeiros e amorosos, que expressem confiança. Este é um
momento de grande desafio também para sua filha, que não tem a mesma
consciência que você ainda, mas já tem alguma. Ela sente o que está por vir, e
com sua condução segura você a auxilia. Afinal, seu objetivo é convidá-la a
participar de seu próprio nascimento, mostrar o que ela pode fazer. Você a
estará ensinando maturidade, responsabilidade, e vai impulsioná-la à luz mais
facilmente.
Na hora do parto, evite se deitar. É preciso
trabalhar com a gravidade a seu favor. Cócoras, usando uma banqueta apropriada.
Ou sentada na banheira. Você, de posse da consciência corporal, vai perceber
qual a melhor posição. Precisa busca-la. Cada mulher tem a sua, nem sempre as
escolhas são parecidas. A orientação de um profissional de sua escolha ajuda
muito. Sempre recomendo a contratação de uma doula ou parteira em quem confie.
Elas estudam, têm muita prática e conhecem manobras salvadoras que a medicina
convencional não usa. A cesárea deve ser a última saída, quando de fato
constata-se risco para bebê e mãe. Desconfie de médicos que apelam rapidamente
a esta cirurgia. Procure se informar com antecedência. Seja ativa neste
processo, aproprie-se de seu corpo, de sua gestação, parto e lactação. Não se
entregue a nada cegamente, esteja sempre com a respiração suave, macia,
profunda, a mente alerta, os pés firmes e espalhados no chão. Procure
aterramento. A mãe é como a terra para seu filho, sem deixar de ser também
água. Nutrição, apoio, refresco.
Quando esta filha (e você como mãe) nascer,
parabenize-a, procure mantê-la em seu peito. Deixe-a ali, sentindo seu cheiro,
sua presença. Dê-lhe forças e boas vindas. Abrace-a pra que se sinta segura
desde já, quando tudo está começando pra ela.
Desejo-lhes uma boa hora!
Com carinho.
Namastê!
* O título deste post é uma paródia à primeira estrofe da música "Mulher Barriguda", do compositor Solano Trindade, interpretada pela banda Secos e Molhados.