Perdoem-me meus desenhos rápidos.
Aqui o tempo é curto pra caprichar mais que isso...
E a vontade de
compartilhar é grande.
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Quarta-feira, 14 de agosto de 2013. RIMYI . Guruji’s Ladie’s Class . 9:30h – 11:30h
Este é o horário de Geetaji para
mulheres. Homens não podem praticar, somente assistir. Então se sentam no fundo
da classe e nos posicionamos para as invocações. Gulnaz, que é professora no
Instituto, abre a aula como usualmente, e em seguida nos pede para entrarmos em
Adhomuka Virasana por em média 2 minutos, seguido de Adhomuka Svanasana.
Após mais uns dois minutos, ouvimos
a voz de Guruji do fundo da sala, onde estava praticando suas invertidas com
apoio, a iniciar suas instruções para Raya, outro jovem professor do Instituto.
O Sr. Iyengar estava decidido a dar a classe, Geetaji não apareceu.
Quando me dei conta estava em
Adhomuka Svanasana por aproximadamente 5 minutos, e olhando pra trás vi que
estava em completo alinhamento, centralizada
com Guruji, a 2 metros dele. Podia vê-lo por debaixo de minhas pernas a
partir de meu Adhomuka. Ele não estava ali quando cheguei, então, que surpresa!
Fui uma das pessoas na mira direta de Guruji durante toda a aula. Ufa! Que
responsa! Respirei fundo e me entreguei às suas palavras completamente. Sua
presença tão próxima a mim manteve meu fogo interno físico e mental alto
durante toda a prática, queimando toxinas de corpo e alma.
Inicialmente sentia meu corpo
rígido, tinha dormido tarde à noite, devido à intensa atividade mental do dia
anterior agravada por duas xícaras de Chaii tomadas às 17h. Mistura perigosa
para pessoas de Dosha Pitta predominante como eu: gengibre, leite e chá preto,
ou seja, altamente estimulante. Não costumo ter problemas com sono, mas aqui
tem sido relativamente difícil regulá-lo, devido à intensidade das
experiências. Então sentia meu corpo rígido, os calcanhares tocavam de leve o
chão quando deveriam tocá-lo com firmeza, as pernas cansadas.
Guruji não entra na aula, mas segue
sua prática e nos observa, comandando oralmente os ajustes, que os professores
mais jovens executam em nós. O primeiro foi exatamente sobre os calcanhares, e
Raya veio diretamente até os meus, descendo-os até o chão com vigor. Meu corpo parecia
ainda não responder propriamente, e comecei a colocar muito mais esforço.
Pára a aula, todos vão até o balcão
observar o detalhamento de Raya sobre a ação de pernas e pés: topo das coxas
cortando pra trás como se tivéssemos que fugir de facas apontadas contra elas,
impedindo de deixa-las cair pra frente. Calcanhares firmes pro chão, artelhos e
se possível metatarsos elevados do chão. Seguimos pra Uttanasana refinando as
mesmas ações.
Guruji pede que fitemos atentamente
a altura de nossos maléolos interno e externo, que devem estar paralelos entre
si e em relação ao chão em Uttanasana e em Tadasana. Seguimos para Utthita
Trikonasana, onde devemos trabalhar para que o maléolo interno da perna de trás
continue paralelo ao chão! A esta altura eu já estava encharcada de suor, a 2
metros de Guruji.
Foi uma aula inteirinha comandada
por ele, firme, vigoroso. Olho em volta por um segundo e recebo olhares de
volta das praticantes próximas a mim (puxa, que aula!). Estávamos todas
encharcadas de suor, suspirando nas permanências, num teste de fogo para nossa
resistência e acuidade física e mental. Trabalhamos somente Asanas cotidianos para
nós como Tadasana, Utthita Hasta Padasana, Utthita Trikonasana, Utthita
Parsvakonasana, Virabhadrasana 2, Salamba Sirsasana, Adhomuka Vrksasana (parada
de mãos), e Salamba Sarvangasana. Muuuuuuita permanência, muitas repetições de
cada uma das posturas de pé e muitos, muitos comandos de um nível de
refinamento altíssimo. Aterramento. Exigente à beça. Ele nos estimulava,
falando sobre a importância de adquirirmos quantidade com qualidade, numa
permanência vívida. Em dado momento perguntou se estávamos interessadas em ir
mais fundo em Utthita Trikonasana ou se queríamos continuar a sequência. É
claro que fizemos portanto mais diversas repetições, penetrando nas ações
internas. Guruji disse: “Vocês vêem como podemos infinitamente refinar nossa prática?”.
Enquanto estávamos em breves
descansos em Adhomuka Virasana ou Adhomuka Svanasana, Guruji chama Abhijata pra
perto de si e a coloca no próximo Asana, faz ajustes, pergunta se ela
compreendeu. Resposta sempre afirmativa, e Abhi segue em nossa direção pra
compartilhar os pedidos do avô, que ainda assim segue interferindo muitas vezes
em sua fala.
E fomos premiados com duas pérolas
no final da aula. Uma de suas falas mais preciosas até agora em todo este mês
pra mim. Enquanto estávamos na última permanência, de em média 10 minutos em
Salamba Sarvangasana, Guruji disse, pausadamente, com sua voz firme de precisão
cirúrgica que agora já conheço de perto, cuja sonoridade dificilmente me
esquecerei:
“O trabalho do músculo traz força, quantidade.
O trabalho da pela traz qualidade. Quando unimos qualidade com quantidade
conquistamos a Sadhana Sagrada.”
Enquanto todas passávamos em frente
a ele pra guardar nosso material, ele nos observava. Como adoraria saber o que
Guruji estaria pensando! Parei perto dele, fiquei sentindo e observando um
pouco a situação, ensaiando e tentando me livrar da timidez, queria ir até ele
fazer minha reverência. Algumas pessoas fizeram antes de mim, o que me deixou
um pouco mais confortável sobre ser um momento adequado. É importante sempre
ficarmos atentos com questões culturais aqui, pra não ferir nenhum código
interno indiano. Tomei coragem. Me coloquei em frente a nosso Guruji, o coração
batendo forte, ajoelhei, toquei com minhas duas mãos seus pés morenos, enormes,
estável montanha no solo, e trouxe em seguida minhas mãos unidas em Namastê
tocando meu coração e minha mente. Me levantei, olhei pra ele. Thank you,
Guruji! E este senhor de 95 anos, imensas sobrancelhas brancas e descabeladas me olha de
volta, assente com a cabeça e com a mão direita num gesto de bênção.
Namastê!