Sábado, 17 de agosto de 2013.
RIMYI Ladies’ class with Raya. 9:30h a 11:30h a.m.
Nesta manhã Geeta não apareceu e
Raya, um jovem professor indiano do Instituto, teve a difícil tarefa de
substituí-la. Raya tem pulso firme e comanda com autoridade.
Está diariamente ao lado de Guruji, auxiliando-o em sua prática
pessoal com os assessórios e recebendo de volta a sabedoria para sua própria
prática e arte de ensinar. Guruji nitidamente tem por ele a afeição e o rigor
de um grande mestre para com seus discípulos mais próximos. É sempre inspirador
observá-los trabalhando, algo que costumo fazer sempre que posso em meio às
horas de prática pessoal na sala do primeiro andar.
Lá vamos nós! A voz de Raya
abriu o Pranava matra Om com simplicidade e presença. Nós, mulheres, em uníssino
respondíamos a cada frase coesas, fortes, vibrantes. A sala estava cheia.
Éramos em média 250 mulheres e pouquíssimos homens sentados ao fundo assistiam.
A arrepiante força feminina de nosso conjunto cantando alto o mantra inspirou
minhas entranhas. Raya também deve ter sentido, pois passou a caprichar nos
arabescos cantantes das vogais da saudação a Patãnjali em uma (que me pareceu)
perfeita pronúncia sânscrita. Linda abertura! Especialmente
melodiosa.
As aulas femininas do Instituto
têm sido minhas preferidas, não só porque alimentam diretamente minha pesquisa
com Yoga para
Mulheres, mas de fato neste momento a sala se inunda de Shakti
Power! Como geralmente a prática é muito vigorosa, a emanação desta força é
acentuada, e algo realmente sagrado acontece enquanto estamos praticando
juntas, uma do ladinho da outra, mat com mat, mana a mana. Formamos uma
corrente que parece inquebrável, de silenciosa cumplicidade.
Antes do segundo Asana Raya
anuncia que apenas dirá o nome das posturas, dois professores do Instituto as
demonstrarão sobre a plataforma, e não serão feitos comandos de alinhamento,
somente ajustes em casos de necessidade diretamente em cada praticante. Outros
professores circulam entre nós, para eventuais correções ou suporte.
Estava calor, todos os
ventiladores ligados, e mergulhamos numa forte sequência de backbends. Imaginem
em que estado ficamos. Suor escorrendo pelas costas era pouco. As entranhas
fervendo. Já no quinto Asana estávamos livres de toda a pimenta ingerida nas
últimas duas semanas e qualquer impureza no trato digestivo. E pensei:
sei que tudo isso pode ficar ainda mais forte, pois estamos apenas
entrando nos Backbends, ainda é lua crescente e o calor tende a aumentar. Na
primeira semana tivemos ênfase nas torções, evoluímos para flexões pra frente,
depois posturas em pé, os fortes Backbends e depois provavelmente virão as
inversões.
Estamos entrando na terceira
semana. Foi uma prática dinâmica, pra esquentar e abrir o corpo com pouca
permanência, que começou com Adhomuka Savnasana e Uttanasana como sempre, mas
logo nos colocou em Urdhva Muka Vrksasana, Urdhva Muka Svanasana,
Virabhadrasana 1, Salabhasana, Dhanurasana, Urdha Dhanurasana, Dwipada Viparita
Dandasana, voltando para Urdha Dhanurasana, Ekapada Viparita Dandasana,
Ustrasana, Virabhadrasana 1, Parsvottanasana, Prasatita Padotanasana. Longa
permanência em Sirsasana em variações de pernas de Virasana e Parsva Virasana,
encerrando com uma série de longas flexões pra frente como Pachimotanasana,
Janu Sirsasana, Upavishta Konasana e Parsva Upavishta Konasana, Salamba
Sarvangasana, Halasana e Karnapidasana. As extensões tinham sido tão intensas
que nosso corpo não queria mais dobrar pra frente, então Raya caprichou nas
permanências desta última parte da aula.
Quando finalmente pudemos
descansar um pouco em Supta Swastikasana nos cobertores usados para as
inversões, suspiramos conjuntamente. Aaaaaaaahhhhhhhh que maravilha!
Após os primeiros minutos de
olhos fechados a brisa agradável dos ventiladores chamou minha atenção. Entreabri
meus olhos querendo mais intimidade com aquela sala e registrar visualmente
este momento em amorosas memórias. Vi as pás em madeira escura rodopiando no
vão do pé-direito alto, o lustre central de cobre refletindo a luz matinal que
entrava pelas grandes janelas. Pilares revestidos de azulejo verde água e o
alto das paredes forrado por muitas fotos de Guruji praticando
inúmeros Asanas, fechando toda a circunferência da sala com sua imagem.
Senti-me envolta por seu legado e sua presença segura.
Deitamos no lado direito, tapete
de mulheres. Nos sentamos em Swastikasana. Fechei meus olhos, uni as palmas em
Namaskar Mudrá em frente ao peito, agradeci profundamente por mais esta
experiência.
Ao sair da sala de práticas,
parei um pouquinho pra olhar com mais atenção a imagem de Lord Hanuman, uma
escultura austera em cobre encrustrada numa das paredes externas. Hanuman
é um deus-macaco no hinduísmo. O Ramayana informa que era encarnação do
poderoso Deus Shiva, que havia se manifestado na Terra
durante o período de Rama, uma das encarnações de Vishnu, para auxiliá-lo em suas tarefas.
Que os poderes realizadores de
Hanumam e as forças protetoras e mantenedoras de Vishnu sigam abençoando a prática nossa de cada dia.
Que assim
seja. Namastê.