"A mente deve permanecer sempre no momento presente", diz B.K.S. Iyengar. Podemos aprender com um bebê. Se ele chora, é porque de fato precisa de algo. Quando tem suas necessidades supridas, não chora mais. Ele não guarda rancores, não perde tempo, não fica preso à memória do passado, mas aprende com suas experiências. Vive no momento presente, cuidando para se manter vivo, em desenvolvimento.
"A palavra 'yoga' tem origem na raiz sânscrita yuj que significa união. No plano espiritual, isso significa a união do eu individual com o Ser Universal. Yoga é a união do corpo, mente, emoções e intelecto", diz também Iyengar. Para que esta união se dê de fato, é preciso se estar totalmente presente na própria existência a cada segundo. Cada distração é desunião, é viver nas partes e não na plenitude.
No livro Água Viva, Clarice Lispector tem como tema central o que chama de “instante-já”, que é fugidio porque há um segundo atrás já é passado, e o próximo ainda é futuro. Neste sentido, a prática de yogasanas pelo método Iyengar nos treina a estarmos presentes, encarnados de fato, com a mente conectada e consciente dos alinhamentos no corpo físico, o que é uma forma de estar no “instante já”, de amar a realidade sem fugir, aceitando suas condições e trabalhando para lapidá-las. Experimente conectar a ponta do dedão do pé à posição do seu pescoço enquanto você realiza Salamba Sirsasana (postura da foto acima), por exemplo. Não há como escapar: você precisa estar no corpo inteiro ao mesmo tempo, consciente das interconexões, e unificando-as. Isto é, ser quem você é, em sua plenitude, sem fantasias nem depreciações. Caso contrário você não estaria realizando a postura. É simplesmente ser, sem julgamentos ou projeções.
Uma vez um professor de yoga disse em uma aula: no processo de meditação, o mais interessante é perceber o que você não é, ao invés de tentar compreender o que você é. Este último é intraduzível, indescritível. Você é essência pura. Meditar é conectar-se a isso, e descascar as camadas de identificação criada, de rótulos e arquétipos que construímos ao redor de nós. Assim, entendemos que realizar posturas com presença também é meditar.
Uma pessoa sem presença fica esvaziada, murcha. A pessoa que está completamente presente infla seu corpo físico com o sopro reluzente de sua existência.
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