O homem que defendeu o prazer


Quem Tem Medo De Wilhelm Reich esteve na mostra internacional de cinema de São Paulo. O documentário conta a interessante trajetória do pesquisador e psicanalista que trabalhou via psicologia corporal, defendendo a liberdade e o prazer como fontes de energia vital. Sua tese era a de que este é o caminho para cada ser humano viver encarnado sua verdadeira essência.

Seu trabalho é extenso, e o que tem a ver com yoga? Ele fala de liberdade. Da importância de buscarmos incansável e constantemente a coerência com nosso íntimo. Em seu livro Listen, Little Man!, por exemplo, fala de como sentimos medo quando não estamos acorrentados ou limitados por algo ou alguma instituição (a ilustração acima está incluída no livro). "O homem médio está pronto para seguir e se arriscar por regras ou ideais alheios, mas não para batalhar ou se arriscar por seus próprios ideais", diz Reich. Trazemos conosco a memória de que para sobrevivermos tivemos que copiar e agradar nossos pais, fazer com que nos dessem a comida e o afeto de que precisamos. Só que quando nos tornamos adultos e independentes isso não é mais necessário, porém é politicamente interessane às instituições que permaneçamos sob controle. Uma pessoa amedrontada fica insegura e é facilmente controlável. Assim, boa parte da real expressão de quem realmente somos e a amplitude de nossa alma ficam sufocadas.

Reich defende ainda que cultivando a capacidade de sentir prazer — prazer este que, em alguns de seus aspectos, tomo a liberdade de relacionar ao que a tradição yogue chama de Santosha (contentamento) — e amor, acabamos diluindo nossas couraças (enrijecimentos físicos acumulados para auto-proteção).

E ainda quanto ao sexo, defende que quando é feito com entrega a ponto de o prazer ser sentido em todo o corpo e não só em partes específicas como os genitais, quando durante o ato sexual perdemos a noção do limite que nos separa do outro, estamos realizando com liberdade o amor e vivendo de fato o prazer que dilui a rigidez do caráter. Considerava portanto esta uma questão tanto de desenvolvimento pessoal quanto social.

Reich falava também da necessidade de "soltarmos" o diafragma, de respirarmos ampla e livremente para realizarmos nossa existência plena por meio do corpo físico, já que a respiração é o sopro da vida. E que às vezes podemos sentir medo (que muitas vezes à primeira vista nem sabemos de onde vem) quando respiramos, por isso prendemos ou encurtamos a respiração. Sendo assim, o exercício de ampliar a capacidade respiratória pode fazer o caminho inverso, nos libertando de medos e retrações, tornando-nos mais livres para emergirmos do plano abstrato (inconsciente) para o material (corpo físico).

No yoga, o exercício de ampliar a capacidade respiratória é chamado pranayama. Prana significa força vital, "é a energia que permeia o universo em todos os níveis. É física, mental, intelectual, sexual, espiritual e cósmica.", diz B.K.S. Iyengar. A idéia de Prana se assemelha muito ao que Reich chamou de orgônio, e que os chineses chamam de Chi.

Reich foi tão perseguido e teve várias obras queimadas e proibidas provavelmente porque falou muito de sexo no pós 1ª guerra mundial, quando o controle social imperava. Foi preso e morreu na prisão. Suas idéias foram retomadas fortemente 10 anos depois em 1968, com a "revolução sexual". Após quinze anos, a descoberta do vírus HIV em 1983 e sua repercussão na mídia mais uma vez parece ter causado susto e retração aos hábitos sexuais de boa parte da população mundial. Gostaria de saber o que Reich diria deste fenômeno.

Abaixo, algumas outras ilustrações da obra Listen, Little Man!, de Wilhelm Reich, publicado em 1948.






2 comentários:

  1. Liberdade, prazer, satisfação, corpo, energia, encontro, sensibilidade, consciência, respiração... realmente são várias as relãções entre Hatha Yoga e Reich, mas há uma diferença essencial bastante interessante : no Yoga a energia sexual deve subir para a cabeça (kundalini) e para Reich ela deve ser descarregada na relação sexual. Duas propostas fascinantes!

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  2. Sim, Marcos! Tanto pelas semelhanças quanto pelas diferenças, o encontro entre os dois pensamentos é interessante. Oriente e ocidente. A herança cultural ocidental nos levando a buscar ouras leituras sobre o mesmo ponto... ; )

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