O filósofo Friedrich Nietzsche declara: “a árvore que cresce para o céu deve mandar suas raízes na direção do inferno. É óbvio que uma árvore sem raízes tomba diante de uma tempestade. Mas poucos de nós levamos nossas vidas como se de fato acreditássemos nisso. Jung (o psicanalista suíço Carl Gustav Jung) advertiu várias vezes as pessoas nascidas no Ocidente para que fundamentassem sua prática de yoga no corpo se quisessem alcançar as alturas do insight espiritual. No Oriente, o mundo indiano onde o yoga nasceu, é firmemente enraizado no solo da mãe matriarcal. A cultura ocidental não; sua mãe (mater) é o materialismo – dinheiro e posses que podem desaparecer rapidamente... O terror da falta de chão ou fundamento é uma das sombras mais temíveis do patriarcado. A ciência tenta compensar buscando fatos. Uma compensação ainda mais obscura e perigosa está na rejeição do feminino no corpo e na natureza, por ser frequentemente considerado irracional, histriônico, frágil, hipersensível – palavras que escarnecem, rejeitam, violam, particularizam e generalizam.
O paradoxo de Nietzsche é uma verdade conhecida por aqueles que já foram forçados a percorrer o terreno belo e brutal de seu próprio corpo ao vagar por sintomas aparentemente inexplicáveis. Nesta selva, o rufar de tambores e a imaginação ativa fornecem o roteiro. Coragem, paciência e confiança rasgam a selva. Cada etapa confirma o paradoxo: a ascensão para o espírito exige a descida ao solo. O solo no yoga é o muladhara, o chacra básico ou chacra raiz, que nos liga à nossa própria humanidade e pelo qual vivenciamos nossa divindade.”
Fonte: Harris, Judith. Jung e o Ioga – a ligação corpo-mente. São Paulo: Editora Claridade, 2010. Imagem: O raio de luz infinito entrando no espaço vazio. Fonte: idem.