Bem-vindo, a casa é sua!


Adaptar um espaço em nossa casa à prática de yoga acontece quando abrimos no dia-a-dia uma janela de tempo para a prática pessoal.
No filme "A pele que habito", de Pedro Almodóvar (foto acima), a personagem se vê trancafiada numa sala enorme, monocromática e quase sem móveis, e acaba sendo forçada a conviver consigo mesma, sem ter para onde fugir. Ele se relaciona com sua mente e com seu corpo, e aprende assim a praticar yoga.
Mesmo se ela não tivesse condições de praticar Yogasanas com seu corpo físico, ainda assim ela estaria praticando yoga, por relacionar-se consigo mesma. Ela vivencia uma série de dificuldades no percurso, e alguns dos resultados da forma como ela conduziu o relacionamento não foram tão felizes, o que acontece muitas vezes em nossa vida. Mas houve de sua parte uma admirável coragem em encarar os fatos, bem como suas consequências. Meu objetivo não é envolver-me a fundo no filme, mas somente usá-lo como ilustração.
Adaptar a prática de yoga à nossa natureza pessoal (prakriti) convida ao mergulho, e desta entrega emergem os mais profundos e ricos insights. Praticar sozinho diariamente no seu espaço tem igual (ou maior) importância na busca das melhores soluções do que a pesquisa, o estudo de material externo à sua realidade.
Por que é que eu, quando vou dar aula na casa de alguém, acabo tendo maior facilidade em encontrar soluções criativas e improvisadas com os móveis (que muitas vezes nos servem como acessório à prática de Yogasanas), do que alguém que vive ali e olha pra eles todo o tempo? Por que a pessoa não se coloca na situação de precisar daquele suporte, de precisar de um apoio na altura ideal para as costas durante uma postura reclinada (como Supta Badhakonasana), ou extendida (como Purvotanasana, foto acima) ou de um apoio para as mãos numa flexão pra frente de pé (como Uttanasana). Os acessórios podem enriquecer a prática tanto de praticantes avançados quanto de iniciantes. E se o praticante, sozinho em casa, está exercitando Svadhyaya (estudo de si mesmo), vai descobrir que suas limitações são muito menores do que parecem, e vai descobrir dentro de si um potencial grandioso.
“‘Sva’ significa ‘eu’; e ‘adhyaya’ significa ‘estudo’, ou ‘educação’. A educação é a extração do que há de melhor numa pessoa. Portanto, Svadhyaya é a educação do ‘eu’. É diferente da instrução, como por exemplo em uma aula onde o professor expõe seu conhecimento. Quando as pessoas se reúnem em Svadhyaya, o orador e o ouvinte têm um só pensamento, sentindo amor e respeito mútuos. Não há preleção enfadonha, e um coração fala ao outro. Os pensamentos edificantes que dali se originam são, por assim dizer, incorporados ao nosso sangue, de modo a se tornarem parte de nossa vida e de nosso ser. A pessoa que pratica Svadhyaya lê seu próprio livro da vida, lendo-o e revisando-o ao mesmo tempo. Há uma mudança em sua atitude para com a vida, pois ela começa a perceber a divindade dentro de si mesma, e que a energia que a move é a mesma que move todo o universo”. B.K.S. Iyengar, Luz da Ioga.
Foto: cena do filme “A pele que habito”, de Pedro Almodóvar.

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