Guruji ensina invertidas: liberem os fantasmas!




Quarta-feira, 21 de agosto de 2013. RIMYI Ladies' class com Guruji. 9:30 – 12h

É um presente dos Deuses pisar na Terra ao mesmo tempo que Guruji. Vendo como ele pratica e ensina hoje, com 95 anos, me faz imaginar que deve ter sido uma espécie de super-homem quando jovem. Pode parecer exagero, mas quem já esteve em sua presença  e o viu em ação sabe. Impressionante. Seu legado foi construído com esforço, suor e dores. Porque dói quebrar padrões e ir além. "A conquista máxima de hoje é o ponto de partida de amanhã", um de seus lemas. Hoje ele se diverte dando risada de nosso esforço e nosso suor, fica contente. Mas muitas vezes diz que somos lentos para aprender e em nosso modo de empreender esforço. Veja que parâmetro ele tem! Suas aulas estão ficando cada dia mais exigentes, rápidas, desafiadoras. Bom pra nós, que estamos sendo ensinados por alguém com altíssimo grau de exigência.
Ultimamente perto de 16h minha mente e meu corpo perdem a capacidade produtiva e preciso descansar. Vou pra cama às 19h. Acordo às 5, e tudo começa de novo.
Num dos corredores do Instituto, um quadro me chamou à atenção logo em meus primeiros aqui. Foto de Guruji num jardim exuberante, todo vestido de branco como é de seu hábito, as palmas unidas em Namaskar mudrá em frene ao peito, um raio de sol incidindo sobre si, embaixo os dizeres: “I am truly grateful for your light shinning on me” (“Sou verdadeiramente grato por sua luz brilhar sobre mim”).
É como estou me sentindo hoje. Profundamente grata. E exausta. Tivemos pela manhã mais uma aula para mulheres dada por BKS Iyengar.
O assento de Geetaji é preparado na plataforma, mas ela não aparece. Os professores mais jovens – porém todos sêniores – do Instituto se entreolham, um deles puxa as invocações, seguidas do primeiro comando de Guruji.
Adhomuka Virasana. Adhomuka Svanasana. Uttanasana, todas com em média 2 minutos de permanência. Está calor, ventiladores ainda desligados, o suadouro começa.
Ao respirar mais fundo pra me manter em homeostase com a temperatura externa, lembro que a prática de Yogasanas dedicada e vigorosa queima Kleshas (nossos obstáculos, obscurecimentos ou venenos pessoais). Li recentemente a breve biografia de BKS Iyengar no site do professor KofiBusia, um grande professor e estudioso acadêmico de Yoga Sutras e Iyengar Yoga. Diz que o significado da palavra Iyengar, que portanto traduz o legado e a função desta família no mundo, trata exatamente da eliminação de Kleshas. Vale dar uma conferida em como são apresentados os passos estipulados por esta família para o comprometimento em como cumprir esta difícil tarefa. Começo a entender um pouco mais o universo dos Iyengars e porque eles são como são.
A aula segue com muitos saltos e fortes movimentos dinâmicos para mobilidade do tronco nas posturas de pé. Abhijata e Raya se revezam nas demonstrações e esclarecimentos vindos de Guruji que pratica lá no fundo da sala e pergunta se estamos saltando com nosso corpo ou com nossa mente. Respondemos corpo. E pede pra que levemos nosso olhar e nossa mente pra onde vamos saltar antes de levar o corpo. E então os saltos se tornam muito mais livres, harmoniosos vigorosos. Depois vieram as invertidas. Ah, as invertidas. Permanência de em média 15 ou 20 minutos em Sirsasana, com uma pausa no meio para detalhar o trabalho das pernas. Fantástico. Em Sarvangasana Guruji soltou e melhor do dia: “O trabalho das pernas e pés é idêntico a Sirsasana. Nádegas pra frente! Pra frente! As nádegas de vocês parecem que têm uns fantasmas dentro! (risos gerais) Abram os portões da pélvis e deixem saírem os fantasmas dos glúteos pela pélvis! (mais risos) Já assistiram ao filme 'O exorcista'? Pois é, deixem saírem os fantasmas e os espíritos que estão impedindo vocês de se tornarem seres espirituais, pela pélvis! E tornem-se seres espirituais!” (muitos risos!)
Aposentado há muitos anos, Guruji não precisava dar aulas. Mas não deixa de estar presente na experiência de quem vem praticar aqui. E não desiste enquanto não vê que compreendemos verdadeiramente o que quer ensinar. Ao final da aula, muito contente fui mais uma vez agradecer Guruji por tanta generosidade. Me ajoelhei, toquei seus pés, subi, Namaskar em frente ao peito, olhei bem firme pra ele e agradeci mesmo num sonoro 'thank you so much!' , do fundo do coração. Ele olhou pra mim e sorriu, divertindo-se com minha gratidão. Forma-se uma fila pra reverenciá-lo. Olhando pra elas, percebi que estávamos todas emocionadas. Efeito colateral de duas horas de esforço comandadas por Guruji: pernas bambas e cansadas, emoção à flor da pele. Nosso Guru, de riso solto olhando pra gente. As sobrancelhas e o cabelo muito brancos e desgrenhados balançavam felizes. E olhava pra Raya, seu assistente e instrumento de comunicação conosco, que sorria de volta.