PUNE . Sábado,
04 de agosto de 2013. Ladies Class com Geetaji, 9:30 – 11:30h a.m.
Geeta
Iyengar comanda a aula com voz e olhar firmes. Tem um grande coração. Brinca com
questões femininas. Diz que não podemos por exemplo fazer uma torção como se
fosse uma pose... temos que entrar no Asana com vigor, com fé em nosso corpo,
nossa mente. Temos que querer ir mais longe. Faz piadas com a delicadeza da
mulher que quer sempre parecer bonita, e todas as presentes riem. Geetaji tenta
não rir, mas depois sucumbe e esboça um sorrisinho contido no canto da boca como
quem quer escondê-lo. É ótima! Por trás do olhar firme e penetrante podemos
sentir uma professora compassiva, cuidadosa, que olha a todas nós, de modo que
nos sintamos cuidadas. Desperta em nós muita atenção com o que fazemos, de modo
que seja tudo correto, adequado ao nosso corpo, pra que observemos nossa
verdade. Geetaji transmite valores com a intenção de educar as mulheres a
firmarem seu caráter, sua força de vontade interior em busca do aprimoramento.
Todo
sábado pela manhã temos duas horas desta aula feminina, que neste sábado foi
forte, com Asanas muito vigorosos. Havia homens e mulheres de todas as idades
no fundo da sala somente assistindo à aula, e Guruji fazia sua prática pessoal, como
sempre no canto esquerdo, de onde também nos observava atentamente. A simples
presença deste homem faz tudo mudar. O fato de estar praticando nesta sala me
move a descobrir forças dentro de mim que sequer sabia que existiam.
Geetaji
nos conduziu através de uma série de torções e flexões pra frente profundas, que
culminaram em Parivrta Parsvakonasana e Ardha Matsyendrasana. Logo avisa que
sua voz forte vai ecoar pelo espaço nos pedindo pra exalar e torcer, exalar e
torcer, exalar e torcer enquanto sentir alguém na sala que ainda possa ir além.
Em Pachimotanasana,
“cotovelos pra cima! Movam o tronco pra frente! Movam os lados do tronco pra
frente! Afinal de contas, vocês estão numa flexão pra frente! Temos que mover o
tronco pra frente e repousar a testa sobre as canelas, com a intenção de olhar
pra frente e não pra baixo, mas sem levantar a parte de trás da cabeça, pra que
a atenção se volte pra dentro.”
Mais
tarde perto do final da aula, tive uma permanência confortável de algo próximo
a 8 minutos em Sirsasana, coisa rara e preciosa pra mim, devido a alguns desvios
congênitos em minha coluna vertebral, que batalho para endireitar com a prática
dos Asanas! As torções que fizemos antes aliviaram todo e qualquer desconforto
intervertebral, e sentia minha cabeça apoiada no chão de um jeito largo,
aberto, como se pudesse daquele solo extrair forças através de meu sétimo
chackra. Caprichei no alinhamento do quadril. Passamos por Parsva Sirsasana e
Ekapada Sirsasana. Senti minha cabeça bem plana no chão. O cume bem posicionado.
No início minha atenção ainda oscilou um pouco, mas quanto mais me concentrava
para que minhas pernas me puxassem pra cima fazendo as vezes de um motor forte
e constante, meu pescoço ficava livre. E então pude me deleitar, estava
realmente entregue ao Asana, e ele a mim. Éramos um só. Meu olhar mergulhou pra
dentro. Todo o medo desapareceu e o que restou foi muito contentamento. Quando
Geeta nos pediu para desfazer a postura, agradeci e reverenciei àquele solo em
Adhomuka Virasana.
Seguimos
para Niralamba Sarvangasana com os tríceps firmes no chão, as mãos fora das
costas, os punhos cerrados e voltados para rosto, o que trouxe muita leveza ao
Asana! Uma variação nova pra mim. Muito boa!
Savasana.
Geeta, assim como Abhyjata em sua aula de Pranayama da noite anterior, nos pede
que seja garantida a extensão total do corpo posterior, espaço, liberdade, pra
que então possamos relaxar completamente.
Por duas
noites consecutivas tenho tido sonhos significativos onde estou sempre no
Instituto, e nesta última após a aula de Geetaji sonhei com Guruji. Encontrava-me
frente a frente com ele no meio da sala de práticas do Instituto, e o cumprimentava
com um carinhoso Namastê, unindo as mãos em frente ao peito, e ele me devolvia
um sorriso cheio contentamento. Fisicamente ainda não fiz minha reverência aos
pés de nosso mestre, como é o hábito aqui, não encontrei ainda um momento
adequado, estou um pouco sem jeito sobre como chegar até ele. Nestes primeiros
dias sigo observando os professores antigos do Instituto, para compreender
melhor como funciona este pequeno-grande ritual, algo tão diferente de nosso
mundo ocidental. Aproxima-se, ajoelha-se em Virasana e dobra-se pra frente,
tocando os pés de Guruji em desejo de luz pra ele e pedido de bênção.
Após estes
anos estudando e praticando, estar finalmente na presença de BKS Iyengar dá frio
na barriga. Quando ele passa enche meus olhos de rajadas de emoção. Vez em
quando ele pára sua prática para corrigir alguém, o que se transforma numa
grande aula e todos páram o que estão fazendo para se achegar e assistir. Inventa
novas formas de usar os props a todo momento, não sossega enquanto não faz a
pessoa ir além do que achava que podia. A gente fica sem jeito de olhá-lo praticar
muito de perto ou por muito tempo pra não assediá-lo.
Não
reverenciei Guruji ainda materialmente, mas Geetaji sim. E pude experimentar que
este gesto de humildade perante uma grande sabedoria traz ainda mais clareza
sobre o contraste, ou seja, o quanto ainda preciso aprender e, de alguma forma,
naquele momento abriu-se misteriosamente em minha mente a possibilidade de
partilhar um pouquinho mais daquele imenso saber, e senti como se me tornasse
um pouco mais permeável a absorvê-lo.
Minha
mente e meu coração transbordam gratidão.