Templo de Apolo, onde atuava o oráculo de Delfos. |
A inscrição grega na placa acima
estava sobre o templo de Delfos, na
Grécia. Durante mais de 15 séculos, do
nascimento ao fim da cultura grega antiga, o Oráculo de Delfos, ou templo de
Apolo, serviu como local onde peregrinos vindos das mais diversas latitudes do
mundo helênico consultavam as pitonisas, as sacerdotisas oraculares, para saber
qual o seu destino, da sua família ou da sua pátria. Delfos tornou-se um dos
lugares sagrados mais venerados pelos gregos, sendo que suas previsões e
predições tiveram enorme repercussão nos destinos de reis, de tiranos e de muita
outra gente famosa daqueles tempos. O
interessante é que, para lembra-los de que não se apegassem à imagem do oráculo
como objeto externo, já na porta do templo encontrava-se a inscrição que transliterada fica gnōthi seauton ou também gnōthi sauton, em
forma contraída da palavra, que significa “conhece-te a ti mesmo”.
Ou seja, o maior oráculo está dentro de você mesmo.
O pai da psicanálise
Sigmund Freud disse “Know the higher self”, traduzido vulgarmente como “Conhece-te
a ti mesmo”, mas tem também o significado “Conheça o ser Supremo (que está em
você)”. No filme “Freud além da alma”, a personagem de Freud nos lembra que “há
dois mil anos estas palavras estavam escritas no templo de Delfos. Elas são o
começo da sabedoria. Nelas está a única esperança de vitória sobre o mais
antigo inimigo do homem: a vaidade. Este conhecimento está agora a nosso
alcance. Iremos usá-lo? Esperemos que sim.”
Freud percebeu que enquanto
crianças, somos como animais selvagens, ainda desprovidos da moral criada pela
sociedade. Depois apreendemos os códigos morais, e reprimimos nossos instintos,
que nos sonhos falam conosco em enigmas, pois são ideias disfarçadas, já fugindo
da repressão social. Se conseguimos decifrar estes enigmas, compreendemos
nossos verdadeiros instintos e podemos posicioná-los num bom lugar em nossa existência.
Se quisermos relacionar o
saber do corpo-mente que o Yoga desenvolve com os preceitos da psicanálise
ocidental, podemos ainda lembrar o que Dr. Breuer (tutor e colega de Freud) nos
diz. “Um trauma pode fazer a lembrança do incidente sair do consciente, quando
se torna insuportável. Lembranças inconscientes criam sintomas porque estão
cercadas de emoções que não acham uma saída natural através da consciência. Por
exemplo: se você está cheio de pesar, cai em prantos. Zangado, dá um soco.
Assustado, corre. A emoção despertada em você é descarregada na ação física.
Mas e se a emoção é sufocada, estrangulada? O fogo não sai. Fica latente e
enche a sala de fumaça, os corredores, a sala toda e, finalmente, sai por uma
janela. Um sintoma mórbido é apenas energia emocional saindo pelo lugar errado.”
E
complementa Freud: “Um trauma pode ser
constituído de uma catástrofe, um acidente, uma memória ou um conjunto de
memórias intoleráveis e conscientes. Haveria um mecanismo psíquico que defenda
a mente contra lembranças intoleráveis, como as glândulas linfáticas fazem com
uma infecção no corpo? Um mecanismo de repressão que proíbe tais lembranças de
irem para o inconsciente e tranca a porta?” A resposta que encontrou foi sim. E
daí nasceu sua teoria sobre as neuroses.
Além de Freud, o grande filósofo Michel
Focault também revisitou este conceito e citou os gregos em seu texto “A ética do cuidado de si como prática de liberdade”, em: Ditos
& Escritos V - Ética, Sexualidade, Política. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2004. Focault diz acreditar que “a prática de si, fenômeno
bastante importante em nossas sociedades desde a era greco-romana, não tem sido
muito estudada [...] Trata-se de uma prática ascética, dando ao ascetismo um
sentido muito geral, ou seja, não o sentido de uma moral da renúncia, mas o de
um exercício de si sobre si mesmo através do qual se procura se elaborar, se
transformar e atingir um certo modo de ser.” E vai ainda mais longe afirmando
que trata-se de uma “prática de liberdade”.
O saber yóguico por meio dos Yoga
Sutras de Patãnjali fala também de Svadhyaya,
ou auto-estudo, que é parte de um conjunto de dicas e preceitos éticos, disciplinas e observâncias (chamados Niyamas) do praticante para com seu
mundo interior. Para saber mais sobre Niyamas clique aqui.
Guruji B.K.S. Iyengar praticando Svadhyaya por meio de seus Yogasanas. |