“É tudo muito familiar. Falhas
linhas, escritas por línguas, mordidas pelo silêncio. Pensamentos formados. Estávamos
à procura de violência em nossas perguntas, nossas sugestões. É tudo muito familiar.
O que ela estava vestindo? Ela estava caminhando sozinha? Ela não deveria ter
bebido tanto, ela deveria ter sido mais cuidadosa, ela não deveria, ela
deveria, ela... Como se fosse culpa dela. Como se a violência de gênero não fosse
uma questão dos homens. Como se os homens não pudessem administrar e ajudar a
si mesmos. Como se a responsabilidade por suas próprias ações não caíssem sobre
seus próprios ombros. Como se os homens não tivessem o poder de mudar a forma
como os homens agem. Lembro-me de, ainda jovem adolescente, aprender os fatos.
Uma em cada três. Uma em cada três. Sinto náuseas. Como homens como eu poderiam
fazer isso?! Eles não poderiam. Eu pensei, eles não poderiam. Devem ser
monstros. Devem ser monstros. Monstros em máscaras de homens. Monstros em
máscaras de homens. Rearranjam seus rostos até que eu não possa mais me ver neles.
Monstros. Lembro-me de ir a uma festa no leste de Vancouver e ver na jaqueta do
meu amigo escrito “PARE O ESTUPRO”. A mensagem tão clara. Assim,
indiscutivelmente simples, deixou um gosto ruim, porque me lançou pra fora do
meu lugar de conforto. Porque me lembrou da realidade que todos nós enfrentamos.
E a reação inicial, minha reação inicial foi escolher silêncio. Portanto,
permiti a violência. E esse foi um caso claro da cultura de estupro. E eu me
lembro no vestiário esportivo como a equipe proclamou que, na vitória, estuprou a outra equipe. Ou no café,
quando o meu chefe fez uma piada sexy e eu não disse nada. [ ...] Esta cultura
de violência nos toca a todos. Mas não admitir perpetuadores como monstros
permite-nos não termos que analisar nossas próprias ações. Homens, joguem fora suas
máscaras. Homens, assumam a responsabilidade. Homens, abram a boca mais larga,
mostrem que ali tem mais que seus dentes. Há uma suavidade na garganta
esperando para ser liberada. Homens, que são responsáveis pela grande maioria
da violência, homens, é uma epidemia. Homens, não pensem que tem que ser desta
maneira. Homens, se vocês podem fazer o mundo mais seguro para as mulheres que
vocês amam, para todas as mulheres, crianças e homens... vocês não farão? Homens,
vocês podem. Homens, precisamos que sejam corajosos para falarem e serem mais que
espectadores. Homens, baixem suas máscaras. Homens, vamos olhar o outro nos
olhos. Homens, vamos conversar.”
Poema de Jeremy Loveday, poeta, líder comunitário e agente de mudanças canadense. Tradução livre.